segunda-feira, 10 de maio de 2010

FAO: África pode alimentar o mundo



O planeta tem atualmente 1,4 bilhão de hectares de terras dedicadas à produção agropecuária e pode acrescentar outro 1,6 bilhão de hectares, a maior parte na África e América Latina. Na África, a vasta região de savanas que se estende do Senegal à África do Sul, a chamada Savana da Guiné, abarcando 25 países, tem um potencial agricultável de 400 milhões de hectares, dos quais apenas 10% encontram-se atualmente aproveitados. O potencial de aproveitamento da área pode ser vislumbrado pela semelhança dos solos da região com os do Cerrado brasileiro e do Nordeste da Tailândia. Em ambos os países, sucessivos governos criaram as condições para o crescimento da produção naquelas áreas, como ressalta o estudo "Despertando o gigante".
Não obstante, de acordo com o estudo, o continente africano tem condições ainda melhores para obter um rápido desenvolvimento agrícola, devido a vários fatores: um rápido crescimento econômico, populacional e urbano, que proporciona mercados domésticos amplos e diversificados; ambientes políticos domésticos e ambientes empresariais favoráveis em vários países; aumento de investimentos estrangeiros e domésticos na agricultura; e o uso de novas tecnologias.
O estudo aponta o modelo tailandês, baseado em propriedades menores, mais adequado para a África do que a produção baseada em grandes propriedades, que caracterizou o desenvolvimento do Cerrado brasileiro. "A agricultura comercial na África pode e deve envolver pequenos proprietários, para maximizar o crescimento e espalhar amplamente os benefícios. A produção mecanizada em grande escala não oferece quaisquer vantagens óbvias de custos, exceto em circunstâncias muito específicas, e é bem mais passível de provocar conflitos sociais", afirma o economista do Banco Mundial residente em Madagascar, Michael Morris.
Entretanto, o estudo aponta que a produção de gêneros de baixo valor em minipropriedades de 1-2 hectares ou menos é insuficiente para gerar rendimentos que proporcionem uma saída da pobreza. Por isso, é necessária a criação de oportunidades para que esses produtores possam diversificar os seus cultivos.
Quanto às preocupações ambientais, o estudo afirma que, a despeito dos riscos de exploração de ecossistemas vulneráveis e do uso excessivo de fertilizantes e pesticidas, a agricultura pode beneficiar o meio ambiente. "A comercialização da agricultura por meio da intensificação pode reduzir os danos ambientais, pela diminuição do avanço da agricultura em terras frágeis e/ou ambientalmente valiosas", diz Michael Morris.
Ademais, como ressalta o chefe do departamento africano do Centro de Investimentos da FAO, Guy Evers, "felizmente, existe uma rica experiência de outros países da qual se pode aprender".
Entre esses países, o Brasil tem muito a oferecer aos africanos, principalmente por conta das avançadas técnicas de cultivo no Cerrado desenvolvidas durante mais de três décadas por centros de pesquisa como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que já tem um escritório em Gana.
FAO: Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

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