sexta-feira, 7 de maio de 2010
A Carne, a Saúde e o Meio Ambiente
Um relatório da ONU indica que a produção de carne libera mais gases do efeito estufa na atmosfera do que o setor de transporte. Além disso, promove doenças cancerígenas e a diminuição das taxas de fertilidade. Mas existe uma dieta que pode melhorar a saúde e a qualidade de vida.
Comer uma quantidade menor de carne e aumentar o consumo de frutas, verduras, legumes e peixes promovem um aumento da expectativa de vida da população. Mas um aumento que vem acompanhado de qualidade, o que faz toda a diferença.
Hábitos alimentares saudáveis.
Quem não gostaria de viver com os menores índices de doenças crônicas? A região do mediterrâneo, por exemplo, pode servir de inspiração. Formada por países de três continentes diferentes – Itália, Espanha, Grécia, Iugoslávia, França e Albânia, na Europa; Egito, Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos, na África; Turquia, Israel, Síria e Líbano, na Ásia, apesar das inúmeras diferenças culturais, econômicas e sociais, certas características geográficas, como o clima, a temperatura e o solo, influenciaram a agricultura e, conseqüentemente, os hábitos alimentares do povo, ao longo dos séculos. Resultado: as pessoas vivem mais e melhor.
A dieta dos países mediterrâneos é composta basicamente pelo alto consumo de frutas, hortaliças (verduras e legumes), cereais, leguminosas (grão-de-bico, lentilha), oleaginosas (amêndoas, azeitonas, nozes), peixes, leite e derivados (iogurte, queijos), vinho e azeite de oliva. Mas o que a torna diferente da alimentação das outras regiões do mundo é o baixo consumo de carnes vermelhas, gorduras de origem animal, produtos industrializados e doces (ricos em gordura e açúcar).
Benefícios dos hábitos alimentares da região mediterrânea
Frutas e hortaliças – por conterem grande quantidade de fibras e antioxidantes (como beta-caroteno, licopeno, vitaminas E e C) previnem o câncer.
Cereais – são essencialmente fornecedores de energia para o organismo; mas, se forem integrais, também contribuem com vitaminas do Complexo B, vitamina E, selênio e fibras.
Leguminosas – são fonte de fibras e proteínas vegetais. As fibras combatem a constipação, evitam o câncer do cólon e reto (regiões do intestino grosso) e diminuem o nível do colesterol "ruim" (LDL), prevenindo o aparecimento das doenças cardiovasculares.
Oleaginosas – por possuírem ácidos graxos mono e polinsaturados, as oleaginosas reduzem a chance da pessoa desenvolver a hipercolesterolemia (colesterol alto no sangue). No entanto, quem faz um plano alimentar com o objetivo de emagrecer não deve exceder no seu consumo, pois apesar das inúmeras vantagens, elas são muito calóricas.
Peixes – são ricos em ácidos graxos ômega 3. Dessa forma, atuam contra o aparecimento de uma variedade de doenças, incluindo a hipertensão, a aterosclerose (arterioesclerose causada por ateromas – alteração degenerativa da camada íntima de artérias), as cardiopatias e o câncer.
Iogurtes – além de serem fonte de cálcio, contêm lactobacilos (microorganismos vivos). O cálcio contribui para a prevenção da osteoporose e os lactobacilos beneficiam a flora intestinal, combatendo os microorganismos patogênicos que possam estar presentes nos intestinos.
Vinho tinto – por possuírem uma alta quantidade de flavonóides (antioxidantes), o vinho tinto evita a formação de placas de gorduras na parte interna dos vasos sanguíneos (ateromas) e, por conseqüência, diminui o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. De acordo com a cultura mediterrânea, o consumo do vinho tinto deve ocorrer durante as refeições, pois a presença de alimentos ameniza os efeitos tóxicos do álcool no organismo.
Azeite de oliva – é rico em fenóis (antioxidantes) e em ácido graxo monoinsaturado, sendo que o último atua no aumento da taxa do colesterol "bom" (HDL), favorecendo o coração. Segundo o costume do povo mediterrâneo, o ideal é consumi-lo diariamente, para temperar as saladas, regar um peixe ou a carne antes de assar, fazer um arroz... Mas, não se deve esquecer que o azeite, assim como qualquer outra gordura, é calórico. Portanto, seu consumo não pode ser exagerado.
Voltando a falar em carne...
Recentemente, a ONU – Organização das Nações Unidas – divulgou um relatório apontando que a produção de carne é um dos maiores vilões da preservação ambiental, pois libera mais gases do efeito estufa na atmosfera do que o setor de transporte, por exemplo. Este relatório contabiliza os gases do efeito estufa liberados no meio ambiente em todas as etapas do ciclo de produção da carne – desde a abertura de pastos em florestas, a fabricação e o transporte de fertilizantes, a queima de combustíveis fósseis em veículos de fazendas até as emissões físicas do próprio gado.
“A Organização da ONU para Agricultura e Alimentos (FAO) estima que as emissões diretas da produção de carne correspondem a 18% do total mundial de emissões de gases do efeito estufa”, falou à BBC Rajendra Pachauri, cientista climático da instituição.
"Na medida em que as pessoas têm mais renda, elas consomem mais carne, e isso demanda mais grãos para alimentar os animais, então, certamente, isso vai ter um impacto nos preços globais como um todo", diz Wallace Tyner, especialista em economia agrícola da Universidade de Purdue, nos Estados Unidos.
O hormônio e a queda na fertilidade
Publicado no jornal médico Human Reproduction, um estudo constatou que o uso de hormônios para fomentar o crescimento animal causa danos ao espermatozóide humano. Verificou-se que os filhos de mulheres que consumiram carne em excesso têm uma possibilidade três vezes maior de possuir uma contagem de espermatozóides tão baixa que pode classificá-los como sub-férteis.
No mesmo estudo também foi descoberto que os filhos de mulheres que consumiram mais de sete refeições com carne bovina por semana tinham uma concentração média de espermatozóide de 43,1 milhões por mililitro de fluído seminal, bem abaixo da média de 56,7 milhões por mililitro encontrados nos filhos de mulheres que consumiram menos carne.
Entre os filhos de mulheres que comiam uma quantidade excessiva de carne, 17,7% tinham uma concentração de espermatozóide abaixo dos 20 milhões por mililitro que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), se encaixam na categoria de sub-fertilidade. Já a porcentagem detectada entre os filhos de mulheres que comiam menos carne foi 5,7%.
A carne e o câncer
O Centro de Investigação Prospectiva sobre o Câncer e a Nutrição da Europa (EPIC, na sigla em inglês) concluiu que a carne vermelha processada pode levar ao desenvolvimento do câncer. "Já suspeitávamos há algum tempo que o consumo elevado de carne vermelha e processada estava associado ao câncer nos intestinos. Agora, temos certeza de que há uma relação séria, já que esse foi o maior estudo do gênero realizado na Europa", contou Sheila Bingham, uma das autoras do trabalho desenvolvido sobre o tema.
Os cientistas da instituição observaram os hábitos alimentares de mais de quinhentas mil pessoas na Europa ao longo de dez anos. Chegaram à conclusão de que as pessoas que comem mais de duas porções de 80 gramas de carne por dia correm 35% mais riscos de desenvolver a doença do que os que comem apenas uma (ou menos de uma) porção por semana. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia recomendado um consumo maior de peixes e menor de carne.
Os pesquisadores do Brigham and Women's Hospital e da Harvard Medical School, em Boston, EUA, examinaram noventa mil mulheres, que preencheram questionários em 1991, 1995 e 1999, nos quais registraram a freqüência com que consumiam mais de 130 tipos diferentes de alimentos e bebidas. As que consumiram uma porção e meia de carne vermelha por dia tiveram quase dobrado o risco de câncer de mama receptor-positivo à presença de hormônios, em comparação com as mulheres que consumiram três ou menos porções de carne vermelha por semana.
O estudo, divulgado na revista médica Archives of Internal Medicine, se soma a outros que já indicavam uma associação entre a ingestão da carne vermelha e o surgimento da doença.
Um resumo saudável
Concluindo sobre tudo que foi abordado, fica explícito que o consumo excessivo de carne faz mal para a saúde, o meio ambiente e a perpetuação da espécie. Normalmente, é complicado substituir um prazer (é assim que muitos se referem a este hábito alimentar). Mas ele pode ser revisto com consciência e planejamento. Não é necessário abortá-lo das refeições. Só torná-lo comedido.
Na dieta mediterrânea enfocada nesta matéria, por exemplo, foi possível observar que os alimentos que a compõem são fontes de vitaminas, minerais, ácidos graxos mono e polinsaturados, fibras e antioxidantes. Além disso, são facilmente encontrados no Brasil. Ou seja, são uma excelente opção para quem se interessa em alcançar uma vida longa, plena em saúde e vitalidade.
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