segunda-feira, 19 de abril de 2010

Arte



A flor em diversos momentos
Já dizia um poeta que nem tudo são flores. Mas que elas deixam qualquer ambiente muito mais alegre, bonito, caloroso, sereno e colorido é incontestável. Além de mais cheiroso, é lógico. Sem sombra de dúvida, as flores são um bálsamo e um grande diferencial.




Quem duvidar desta prerrogativa deve experimentar colocar um arranjo de Ikebana Sanguetsu em casa, no trabalho... O ambiente fica mais leve, harmonioso; o equilíbrio torna-se mais evidente; as pessoas que o apreciam passam a viver com mais otimismo, esperança, alegria. “ No canto do escritório, em cima da escrivaninha, onde quer que seja, não é nem preciso dizer o quanto uma flor nos reanima e nos faz sentir um toque de pureza ”, afirmou Mokiti Okada antes da metade do século 20. “ Se chegarmos ao ponto de existirem flores onde quer que haja pessoas, a força para tornar ameno este mundo infernal será bem grande.”



Sua filha Itsuki, que instituiu o estilo Sanguetsu de ikebana seguindo a sua técnica e filosofia, afirmou: ”As flores não falam. Seguindo a Lei do Universo, elas florescem silenciosamente, conforme lhes ordena o tempo e, após caírem, sem que o percebamos, oferecem os frutos para a propagação das sementes. L indas e deslumbrantes, prosseguem sua existência silenciosa e tranqüilamente. Acho interessante como as pessoas se afeiçoam a elas, amando-as como algo muito nobre e singelo. Por conseguinte, é muito natural que o ser humano deseje vivificá-las à sua volta.”



Uma arte milenar

Ikebana é uma das muitas expressões artísticas desenvolvidas ao longo dos séculos pelos japoneses, sob influência do Zen Budismo, que leva o praticante à harmonia interior, alcançada através da contínua interação com as plantas que, por sua vez, resulta no aflorar e no desenvolver da sensibilidade. Por isso, a arte da ikebana é considerada também uma forma de meditação. Iniciar-se no seu aprendizado significa assumir um caminho de autoconhecimento.



A palavra ikebana deriva de ike – provém dos verbos ikeru (colocar ou arrumar flores), i kiru (viver, tornar vivo ou chegar à essência de algo) e ikassu (colocar sob a melhor luz, ajudar a encontrar a verdadeira essência, tornar a vida mais pura) – e hana (pronuncia-se bana), que tem o significado literal de flor. Portanto, ikebana é a arte de arranjar flores, ramos e galhos naturais numa composição, evidenciando-lhes a beleza. É também uma opção, um estilo de vida.



A arte da ikebana teve início no Japão, entre os sé­culos 15 e 16, mas seus primórdios remon­tam a cerca de mil anos antes, com a introdução do Budismo no país. O fator determinante para o surgimento desta arte sublime foi a forte relação do povo japonês com a natureza, que se explica por dois motivos. Primeiro, porque até o século 5, o Japão era caracterizado pelo isolamento que o distanciava dos demais países. Assim, a cultura nipônica era extremamente regionalista e se caracterizava pela forte ligação do homem com a terra natal e os elementos que a compõem. Essa ligação deu origem ao xintoísmo, religião nativa que cultua Amaterassu-Oomikami – deusa do Sol – como divindade maior e reverencia os espíritos que admite estarem presentes nas montanhas, árvores, flores, rios, animais, chuva, vento, trovão etc. Segundo, porque naquele país é onde são mais bem definidas as estações do ano, havendo uma contínua renovação dos aspectos da natureza.



Assim, quando no século 6, sob influência do Budismo, estabeleceu-se o hábito de enviar oferendas a Buda, a flor foi escolhida por se tratar da mais bela e sutil manifestação da natureza. Assim, os primeiros praticantes do que viria a ser a arte do ikebana foram sacerdotes, e o Templo “Rokakudo”, de Kyoto, é considerado o berço dessa manifestação artística.



Por volta do século 10, outras manifestações relativas à flor se integraram à vida japonesa. Primeiro, estabeleceu-se o hábito de colocar flores em vasos para ornamentação das residências, uma vez que, até essa época, elas eram admiradas, sobretudo, no seu habitat natural.



Mokiti Okada utilizava as plantas do seu próprio jardim. Escolhia as que mais gostava, e as arranjava num vaso, rapidamente. Ele dizia que se elas fossem muito manuseadas, perderiam a vita­lidade. Por isso, ao compor as vivificações, retirava apenas uma ou duas folhas menos bonitas, colocando as flores rapida­mente nos vasos. Essa rapidez era o resultado do profundo amor e respeito que ele nutria pela natureza. Costumava dizer: “Procure sempre ter a natureza como princípio básico de sua vida”. Parece que suas composições florais transmitiam exatamente isso.



Atualmente, a arte da ikebana é difundida mundialmente e há várias escolas – cada uma se expressa através de técnicas e características próprias. A Ikebana Sanguetsu, foi instituída pela Fundação Mokiti Okada com base no sentimento e na filosofia de vida de Mokiti Okada – concretizar o seu ideal de construir uma sociedade mais justa, equilibrada, pacífica e feliz. Por isso, ela tem como princípio respeitar a natureza, procurando criar vivificações que reflitam a beleza natural das flores, com toda sua elegância, simplicidade e pureza.



Para tudo, na Ikebana Sanguetsu, existe uma simbologia. Os galhos podem representar o Sol, a Lua e a Terra, bem como os membros de uma família. Há representatividade para o amor assim como existe passado, presente e futuro. Os alunos relaxam e entram em contato com seus valores mais profundos. Detectam seus sentimentos, seu modo de pensar, sua maneira de agir. Voltam-se para o “eu” e conseguem, quase sem perceber, evoluir e mudar suas vidas para melhor. Resgatam sentimentos perdidos, saldam mágoas e ódios antes enraizados. Flexibilizam-se para a vida. Mokiti Okada afirmava: “Aqueles que têm o desejo ardente de se igualar à beleza das flores, possuem corações que a elas se assemelham”.



Por isso, esta arte precisa ser exercida com muita alegria e sinceridade. O seu praticante precisa ter leveza, pensamento positivo, próspero e grande. Enquanto desenvolve a vivificação floral, precisa mentalizar o bem do mundo, da sociedade ou de alguém. Precisa banir as atrocidades cotidianas da sua mente e se deixar enlevar pelos encantos dos galhos, flores e complementos, com suas curvas e cortes originais.



Mas como a ikebana é uma arte, é preciso empregar técnicas específicas e praticar bastante ( e constantemente ), pois, com o passar do tempo, a experiência conquistada por esta prática e o sentimento de amor e respeito à natureza se refletirão nas vivificações florais, deixando os ambientes mais alegres, iluminados e harmoniosos, como sempre desejou Mokiti Okada.

É por isso que o curso de Ikebana Sanguetsu, conforme afirmam seus coordenadores, não é decorativo. É um curso “de coração”. E é justamente este órgão humano o que mais sofre transformações na prática da Ikebana Sanguetsu. É experimentar para crer. E ser mais feliz, com certeza.



por Ana Cristina Stabelito

Um comentário:

  1. Ahhhh flores...simplesmente sou apaixonadaaaa!!!!
    Gostei muito dessa frase que o Mokiti Okada deixou: “ Se chegarmos ao ponto de existirem flores onde quer que haja pessoas, a força para tornar ameno este mundo infernal será bem grande.”

    Abracos a todos

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